"Meu
sonho é ser cidadã italiana"
Bisneta
de italianos provenientes da Lombardia, a atriz Ana Paula Arosio, 24
anos, é a protagonista da novela "Terra Nostra", que
segundo ela, conta um pouco da história de sua própria
família. A atriz morou na Itália por seis meses em 1996,
onde deixou muitos amigos dos quais guarda muitas saudades. Apesar de
não ter dupla cidadania, a paulistana garante que foi criada
sob hábitos e princípios das tradicionais famílias
italianas e que estabelece com a Itália uma relação
de carinho e nostalgia: "tem uma parte de mim que é de lá",
afirma. Ana Paula Arosio já emprestou seus belos olhos azuis
à mais de 200 revistas nacionais e estrangeiras, outdoors e estrelou
dezenas de comerciais de TV. Em entrevista ao Comunità - minutos
antes de começar a gravar mais algumas cenas de Terra Nostra,-
Ana Paula provou, com muita naturalidade, porque tem o rosto mais fotografado
do país: além de sua inegável beleza, ela é
dona de uma simpatia contagiante. Com inúmeras participações
em filmes, novelas e peças de teatro, a atriz está trilhando
uma brilhante carreira artística e é um dos talentos preferidos
de diretores como Antonio Abujamra, que está montando um espetáculo
especialmente para ela. Na sexta entrevista da série que o Comunità
faz com o elenco da novela, Ana Paula Arósio nos conta um pouco
de sua vida profissional e de sua relação de amor com
a Itália.
Comunità
- Qual é sua ascendência italiana? Conte-nos um pouco
sobre a imigração de sua família.
Ana Paula Arosio
- Sou bisneta de italianos. Meus bisavós vieram ao Brasil para
trabalhar em uma fazenda, como na história da novela. Meu avô
e meu pai nasceram nessa fazenda, que fica em Araras, interior de São
Paulo.
Meu avô já
era bem sucedido na fazenda, mas achou que fosse um grande lance sair
daquele fim de mundo e ir para a cidade. Seus amigos diziam que a cidade
estava oferecendo boas oportunidades. No fim, isso revelou-se uma grande
besteira. Ele era um homem do campo. Só sabia trabalhar com a
terra e não se adaptou à cidade. Acho que é por
isso que até hoje eu sinto necessidade de estar no campo, de
trabalhar com a terra. Eu crio cavalos em Itu, São Paulo, o que
pra mim, além de uma paixão, é a maneira de estar
ligada ao campo e à terra.
Comunità
- Como é sua relação particular com a Itália?
Já visitou a região de onde saíram seus antepassados?
Ana Paula
- Já visitei a região. Meus antepassados saíram
da Lombardia, perto de Milão. Já vi até uma rua
com o nome de via Privata Arosio. Achei muito bonitinho. Minha relação
com a Itália é de carinho e nostalgia. Tem uma parte de
mim que é de lá. Já morei seis meses na Itália
e me sentia em casa. Circulava livremente pelo local e já falava
a língua. Deixei muitos amigos, de quem estou morrendo de saudades.
Comunità
- Você voltaria a morar na Itália?
Ana Paula
- Claro! Eu tenho todos os hábitos italianos. Adoro vinho, massas...Eu
adoraria voltar à Itália, ficaria em qualquer lugar, pois
não existe lugar ruim por todo aquele país.
Comunità
- Há hábitos italianos presentes no cotidiano da sua família?
E por falar nisso, você tem cidadania italiana?
Ana Paula
- Olha, meu grande sonho é ter cidadania italiana, mas infelizmente
eu não consegui porque alguns papéis necessários
para isso se extraviaram. Tenho vontade de ter a cidadania e vou me
dedicar mais a isso. Hábitos italianos... acho que um pouco de
tudo. Meu pai molhava pão no vinho para dar aos filhos, mas a
minha mãe brigava e fazia aquele vinho especial sem álcool
para as crianças. Meu pai dizia que tínhamos que aprender
a beber vinho para ficarmos fortes. Ainda tem toda a coisa da comida,
das massas. Ainda mais eu, que sou um "bom garfo", não
nego. São sagrados alguns hábitos, como a confraternização
da família em volta da mesa e a comemoração de
datas especiais como o aniversário da minha mãe. Acho
engraçado que a minha família é pequena, eu só
tenho um irmão, o Marcos, mas os "agregados" são
inúmeros. O Natal lá em casa é uma festa cheia
de gente, como nas tradicionais famílias italianas. Tem também
a maneira de criar os filhos. Meus pais são descendentes de camponeses
italianos. As filhas são criadas para casar. É uma família
conservadora, com hábitos bem conservadores.
Comunità
- Você mantém vínculos com sua família na
Itália?
Ana Paula
- Não. Nem conheço.
Comunità
- Já falava italiano antes de começar a novela? O que
acha da língua, cultura e história do povo italiano?
Ana Paula -
Já falava italiano. Fui à Itália em 1996 e fiquei
seis meses. Foi muito gostoso. Aprendi italiano e um pouco mais da cultura
do povo, mas vim para o Brasil e não pratiquei mais a língua.
Não tive mais como praticar. Voltei a falar italiano para fazer
novela. Não conheço muito da história. Já
a cultura... estive lá, vivi e gostei muito. Apesar do povo italiano
ser de uma cultura antiqüíssima, é também
um povo muito moderno. Eles têm mentalidade arrojada, não
têm medo de ousar. Acho isso muito importante. É fundamental
para o crescimento de um povo.
Comunità
- Como é ser a protagonista de uma história que fala de
suas próprias origens?
Ana Paula
- É muito gostoso, muito legal. Faz a gente pensar um pouco nas
dificuldades que essas pessoas enfrentaram e também em como era
a vida naquela época. Era completamente diferente. As coisas
eram mais complicadas e ao mesmo tempo simples. Disse há pouco
que meu avô não devia ter saído da fazenda. Mas
pensando bem, com a vida que levavam, é claro que deviam ter
saído. Ele ousou como todo bom italiano.
Comunità
- Como você analisa a história de Terra Nostra? Acha que
está sendo fiel à imigração italiana?
Ana Paula
- O Benedito é muito conhecido por dar um panorama histórico
fiel às suas histórias. Algumas coisas são simplificadas,
claro, para popularizar a novela. A novela retrata as dificuldades básicas
das pessoas da época, o que serve de pano de fundo para mostrar
o romance todo que se desenvolve a partir disso. A novela ainda acompanha
a vida política do país. Os italianos também participaram
de todas as crises da época e da vida cultural e social do país.
A ficção retrata bem isso.
Comunità
- O jornal italiano "Corriere della Sera" publicou uma matéria
há dois meses falando sobre o sucesso da novela e sobre a "Itália-mania"
que se instalou no Brasil desde que "Terra Nostra" começou.
Você esperava tanto sucesso?
Ana Paula
- Acho que a Itália-mania sempre existiu no Brasil. Isso porque
a imigração italiana é muito forte no país.
A cultura italiana é forte no Brasil. A alimentação,
nosso jeito, enfim. O brasileiro em geral mesmo que não
seja descendente tem uma ligação muito grande com
a Itália. Se perguntarmos na rua quem quer conhecer a Itália,
todos respondem que sim. A novela tornou isso mais público. Quem
não conhecia o italiano e está vendo agora, está
louco. A Itália tem um apelo romântico irresistível.
Comunità
- No entanto, uma parcela da comunidade italiana mais tradicional anda
reclamando desse troca-troca de casais na novela, alegando que na época
isto não acontecia.
Ana Paula
- Eu sei disso e até entendo, mas em se tratando de novela não
dá para fazer uma história sem trama e desentendimentos,
porque senão perde a graça. É muito difícil
um par romântico, por mais que se ame desde o início da